Recuperação deve servir para aluno assimilar conhecimento

sexta-feira, 1 de outubro de 2010 12:40 By Org Casa Caiada , In

De: Ana Cássia Maturano Especial para o G1, em São Paulo


Aprender não é coisa fácil. Apesar de ser prazeroso e permitir a expansão do ser humano, exige uma reorganização do pensamento. O que se dá de maneira intensa quando determinadas aprendizagens ocorrem. Como é o caso do falar, andar, ler, escrever, calcular e outras mais que ocorrem ainda quando se é criança.

Essas primeiras aquisições constituem a base para outras, sem as quais uma pessoa não veria o mundo como o vê na fase adulta. O próprio pensamento se torna mais ágil quando se sabe ler e escrever, por exemplo.

Quanto mais aprendemos, de maneira significativa e não como meros reprodutores de conhecimento, mais nossas estruturas de pensamento se modificam.

Cada um aprende num ritmo próprio. Uns andam com um ano de idade, outros um pouco antes e têm aqueles que demoram mais. Desenvolver-se depende de um amadurecimento físico e mental. Às vezes, uma criança tem condições físicas de andar, mas o medo de cair a impede de dar os primeiros passos ou caminhar sem a mão de sua mãe.

Na escola as coisas não são diferentes. Por aproximação, os conteúdos acadêmicos foram pensados para cada série do ensino. Considerando-se aquilo que os alunos teriam condições de aprender.

Só que lá também as aprendizagens dependem de um organismo maduro em seus vários aspectos, para que possa dar conta dos diversos temas propostos. Numa interação dinâmica, o amadurecimento é pré-requisito para se adquirir um conhecimento, que por sua vez vai impulsionar o desenvolvimento daquela pessoa.

Essas diferenças ficam claras numa sala de aula, quando se tem várias crianças – 20, 30 e, pasmem, 40 crianças, cada uma caminhando em ritmos próprios, onde pode-se perceber subgrupos que parecem aprender numa velocidade parecida.

Entre esses, existem um pequeno grupo para o qual determinadas aquisições demoram mais para ocorrer. Alguns, por exemplo, precisam de um tempo maior para se alfabetizar. Para outros, a matemática é um mistério a se desvendar. História é vista como o grande vilão por certos alunos. E assim é com todas as matérias.

Recuperação

Nem tudo está perdido quando algo não flui na aprendizagem. Para esses alunos as escolas usam algo bastante antigo – a recuperação. Geralmente, ela se reduz a uma segunda prova, quando o aluno estuda por si só e tenta tirar uma nota melhor. Algumas escolas propiciam uma nova explicação para que ele refaça a prova e consiga um melhor desempenho.

Para que ela serve? A olhos nus, nada mais é que recuperar uma nota que está abaixo da linha do aceitável pela escola. O que varia de uma para outra. São as notas vermelhas, que parecem indicar que o aluno não teve um resultado satisfatório.

Ela deveria servir para que o conhecimento se desse de fato pelo aluno. Até porque, ele não precisa recuperá-lo, mas fazer com que ele se efetive. Portanto, o termo recuperar não deveria ser o usado para quando a criança precisa rever algum conceito para realmente tomar posse dele.

A cada trimestre as escolas lançam seus boletins e determinam aqueles que devem fazer a recuperação. Embora um pouco confusa para que serve nas escolas, essa é uma oportunidade que não deve ser desperdiçada pelos alunos. Principalmente para aqueles que têm uma clara dificuldade pedagógica, quando uma explicação mais detalhada poderá ajudar na aquisição daquele conhecimento.

O que não significa fazer um reforço escolar (outro tema confuso, reforçar o quê?) nos mesmos moldes do que foi feito durante as aulas regulares. Outras estratégias de ensino/aprendizagem devem ser lançadas.

Essas estratégias pouco serviriam para aqueles cuja dificuldade é de ordem emocional. Para esses, o baixo desempenho pode ser, por exemplo, resultado de desinteresse ou o medo da prova. Geralmente esses são sinais de alguma outra coisa, não o problema em si. Seria apenas tempo e dinheiro jogados fora.

Sim, porque o comum é que as escolas cobrem a mais para ensinar seus alunos quando eles não aprendem da primeira vez. Justo ou não, é algo que cada pai deve discutir com as instituições que recebem seus filhos.

Porém, não é justo punir as crianças negando-lhes aprender determinadas coisas que ainda não conseguem aprender, impedindo-as de fazer uma recuperação/reforço escolar simplesmente por serem pagos.

(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)

FONTE: http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2010/09/opiniao-recuperacao-deve-servir-para-aluno-assimilar-conhecimento.html

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